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Trauma: quando o passado não passa.

  • Foto do escritor: Psicóloga Cintia Vieira
    Psicóloga Cintia Vieira
  • 22 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 20 de ago.


mulher sozinha

Você é adulta, mas ainda sente a mesma aflição de andar na rua sozinha, porque quando criança alguém tentou mexer com você quando voltava da escola.

Você já viajou de carro para nº lugares, e sempre que você que tem que pegar a direção no volante, você trava.

Você já foi casada em um relacionamento abusivo, teve filhos, divorciou, e quando se vê numa situação de começar um novo relacionamento, você entra em pânico.


Célia, 53 anos, profissional autônomo, administra seu próprio negócio como advogada. Mais de 20 anos de carreira, requisitada por muitos clientes e juizes. Uma mulher parda, impecável e mãe.



mulher advogada

Célia me procura para atendimento psicoterapêutico. Na primeira sessão apresenta diagnóstico psiquiátrico: Depressão. Fazendo uso contínuo de antidepressivo e ansiolítico. Sua fala é lenta e pesada, desanimada.


"Eu não sei mais o que fazer Doutora" - Célia pronuncia esta frase várias vezes durante a sessão.


"Confie em mim. Conte com meu apoio. É só isso que você precisa fazer no momento" - Respondi a ela (Cintia Psicóloga).


Sabe quando seu corpo começa a estranhar demais determinada situação? Você começa a evitar o contato, ou mesmo perde o gosto de sair de casa, ou só sai se estiver acompanhada. Célia já vinha sentindo isso a meses. São comportamentos de compensação, te preparando para caso reviva o trauma.


Qual era o trauma de Célia? Se reconhecer impotente, impedida de fazer o que tanto ama; seu trabalho.


Mas as vezes a dor, a doença, o sofrimento, vem como meio de nos frear da rotina. E assim foi para Célia. A depressão a obrigou diminuir seu ritmo de trabalho.


mulher tensa

Se ver impotente para uma mulher, é reforçar o discurso social do papel da mulher, de que "mulher não é para dar certo", "que o seu lugar é na cozinha ou cuidando filhos, não em posições majoritariamente masculinas".


Mas Célia é uma mulher negra em espaços de poder (tribunal). E este peso é em dobro pois "Ser mulher já é uma desvantagem nesta sociedade machista. Agora imaginem ser mulher e ser negra" Afirma Ângela Davis.


Célia também sentiu impotências no passado. Quando criança, mães de outras crianças não permitiam fazer amizade com ela. As amigas brancas a trocavam por outras amigas brancas, isso fazia ela não se sentir bonita. Célia não podia ser amiga, não podia ser bonita, não podia ser desejada. Traumas característico de meninas negras.


disputa familiar

Em casa, Célia disputava a atenção do pai com a mãe, até que o pai vai embora com outra mulher. Célia não pode ter o cuidado e afeto do pai e nem o da mãe.


Célia agora é uma mulher, adulta e mãe, com carreira bem estruturada. Mas o passado não passa. E a depressão começa a fundar seu império profissional.


"Célia, você não é mais aquela criança impedida, mas parte dela habita em você. E você consegue acolher esta criança quando você se permite hoje que as pessoas cuide de você, quando você permite as pessoas façam amizade com você. Quando você permite quem pode te desejar e você corresponder. Quando você permite o afeto do outro". Argumentei a Célia.


O passado de Célia a adaptou a continuar impedida na infância, na juventude e na vida adulta. Sua cura da depressão, foi aceitar que não conseguir fazer tudo sozinha é humano. E contar com o apoio, afeto e cuidado das pessoas para com ela. E assim ocupar o lugar de importância, cuidado e merecimento que lhe foi negado.

criança abraçada

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